CHEGUE NA PAZ

29 de jun. de 2021



A minha casa era simples, pequena, mas tinha o necessário. 

A televisão preto e branco e as cadeiras de madeira na sala acolhiam sorrisos e olhares atentos. 

As refeições eram simples. Com cheiro maravilhoso pra quem entrava com os pés empoeirados e exaustos de tanto brincar na rua. As brincadeiras eram simples. 

Eu brincava descalça, e tossia muito de noite (e ouvia minha mãe reclamar porque eu era teimosa). Mas acordava vivinha da silva pronta pra correr de novo. 

As roupas eram muito simples, e suficientes. Os brinquedos eram também muito simples. As bonecas de pano (chamavam-se bruxinhas) feitas por minha vó. Como eu as amava! 

A casinha de boneca toda mobiliada de caixa de fósforo, sabão em pó e creme dental. Latinhas de leite em pó, pneus, tudo ganhava valor com imaginação. As frutas não lembro de serem compradas. Tirávamos dos pés do quintal, dos vizinhos, da rua.

A vida era simples, inexplicavelmente simples. E éramos inexplicavelmente felizes. 

Desconfio que a felicidade mora é nessas singelezas. Que ela não liga pra sofisticação, sabe? Ela gosta é da modéstia de viver sem pretensão. É criança que exige pouco e aproveita muito.