A televisão preto e branco e as cadeiras de madeira na sala acolhiam sorrisos e olhares atentos.
As refeições eram simples. Com cheiro maravilhoso pra quem entrava com os pés empoeirados e exaustos de tanto brincar na rua. As brincadeiras eram simples.
Eu brincava descalça, e tossia muito de noite (e ouvia minha mãe reclamar porque eu era teimosa). Mas acordava vivinha da silva pronta pra correr de novo.
As roupas eram muito simples, e suficientes. Os brinquedos eram também muito simples. As bonecas de pano (chamavam-se bruxinhas) feitas por minha vó. Como eu as amava!
A casinha de boneca toda mobiliada de caixa de fósforo, sabão em pó e creme dental. Latinhas de leite em pó, pneus, tudo ganhava valor com imaginação. As frutas não lembro de serem compradas. Tirávamos dos pés do quintal, dos vizinhos, da rua.A vida era simples, inexplicavelmente simples. E éramos inexplicavelmente felizes.
Desconfio que a felicidade mora é nessas singelezas. Que ela não liga pra sofisticação, sabe? Ela gosta é da modéstia de viver sem pretensão. É criança que exige pouco e aproveita muito.