A posse.
Não irei à sua posse,
Porque sou negro cotista,
Sou filho da diarista,
Daquela cuja empregada,
que a carteira assinada
Você queria negar.
Não irei à sua posse,
Porque sou homoafetivo,
Filho do índio nativo,
Dono desse lugar,
Cujas terras demarcadas
Você reluta em tomar.
Não irei à sua posse,
Porque sou mulher educada,
Não nasci de fraquejada,
E luto por igualdade,
E isso me engrandece.
Mas respeito e liberdade
não é coisa pra covarde,
Isso você desconhece.
Não irei à sua posse,
Porque sou trabalhador,
Se sem direitos estou
É porque você contribuiu
Pra reforma trabalhista.
Assassinou o sindicato,
E o povo pagará o pato
Do modelo escravagista.
Não irei à sua posse,
Porque eu sou um retirante,
Filho de um imigrante,
Imitante de Jesus,
Que também por um instante,
foi um simples imigrante,
Pra cumprir com sua cruz.
Não irei à sua posse,
Porque sou deficiente,
Sou humano, sou valente,
Mas tenho vergonha na cara.
Minha cadeira de rodas
Segue outra direção:
A do respeito, inclusão,
A direção bem contrária,
Dessa farsa anunciada.
Não irei a sua posse,
Porque eu sou a poesia,
Sou poeta sou folia,
Sou a cantiga de rodas.
Sou quilombo, sou favela,
Sou a pipa da janela,
Voando a favor do vento,
Caindo na plantação
De uma reforma agrária.
Sou a raça libertária,
Sou alegria perene,
Por isso não me condene!
Sua graça é temporária.