Senhor, nada valho,
sou a
planta humilde dos quintais pequenos,
e das
lavouras pobres...
Não me
pertence
a hierarquia tradicional
do trigo
de mim, não se faz o pão universal
nem lugar
me foi dado dos altares
quando os hebreus iam em longas caravanas
nas
terras do Egito
em busca
de trigo,
e Jesus
de Nazaré abençoava
os trigais
maduros
eu, era
apenas o pró nativo
das tabas
ameríndias
Fui o
angú pesado e constante do escravo,
a broa
grosseira do pequeno sitiante
a farinha
econômica do proletário,
a polenta
do imigrante
alimento
dos porcos e do triste um de carga.
Mas, eu, Senhor
sou o
canto festivo dos galos
na
glória do dia que amanhece...
Sou a
pobreza vegetal agradecida
à vós, Senhor.
Eu sou...
o milho.
(Cora Coralina)