3 de jan. de 2013

Oração do milho


Senhor, nada valho,
sou a planta humilde dos quintais pequenos,
e das lavouras pobres... 

Não me pertence 
a hierarquia tradicional do trigo
de mim, não se faz o pão universal  
nem lugar me foi dado dos altares 
quando os hebreus iam em longas caravanas
nas terras do Egito
em busca de trigo,
e Jesus de Nazaré abençoava 
os trigais maduros
eu, era apenas o pró nativo
das tabas ameríndias

Fui o angú pesado e constante do escravo,
a broa grosseira do pequeno sitiante
a farinha econômica do proletário,
a polenta do imigrante
alimento dos porcos e do triste um de carga.

Mas, eu, Senhor
sou o canto festivo dos galos
 na glória do dia que amanhece...

Sou a pobreza vegetal agradecida
à vós, Senhor.

Eu sou... o milho. 

(Cora Coralina)