CHEGUE NA PAZ

1 de ago. de 2011

Como destruir um aluno

Há muitas maneiras de dizer a uma mãe que seu filho está com dificuldades e não conseguiu assimilar o conteúdo do primeiro semestre. Mas dizer que ele não sabe nada?

Essa semana dei três aulas a uma menina de doze anos. Ela ficou de recuperação. Fará a prova quando voltar às aulas. Fiquei muito feliz com sua dedicação. Ela já foi minha aluna no colégio, sei das dificuldades que tem. Mas, aqui em casa, só nós duas, rendeu. Fiquei satisfeita. A mãe dela também.

Quando fui professora dessa garota, pude notar seu nervosismo na hora da prova, em todas as provas. Ela fica insegura, tem medo de errar e acaba deixando muitos exercícios em branco. Lembro-me de ter me sentado perto dela para tentar acalmá-la. Acho que isso é o mínimo que um professor pode fazer. Procuro ser otimista, agradável, sou assim com todos que me cercam (tirando os momentos de braveza), acredito que me comportando assim, alivio a vida de muita gente. A minha também. Por que ser negativo? Por que agredir? O que ganhamos com isso?

A mãe da minha aluna particular disse que ficou muito chateada ao ouvir a professora de sua filha dizer na cara delas: ela não sabe nada! Vai ter que estudar tudo, desde o início! Essa foi uma situação desconcertante. Também fiquei chateada de saber que minha colega fez isso. Achei forte demais. Não se diz que um aluno não sabe nada.

Devemos ser cautelosos ao falar. Uma palavra pode destruir uma pessoa. E, nesse caso, foi acabar com a autoestima dessa menina. Não aceito! Como imagina que ficou o rostinho dela ao ouvir isso? Não! Imperdoável.

Uma atitude como essa pode afetar uma vida inteira. A criança, caso não encontre quem lhe devolva a segurança, cresce pensando que é incapaz! Por mais dificuldade que um aluno apresente, sempre ressalto o que fez de bom. E isso pode ser transformador. Fico brava com eles, às vezes, muito brava. Tive uma aluna que me chamou, um dia, de leão emperiquitado (por causa das minhas pulseiras rs). Mas eles sabem que os amo. Sabem que fico brava com razão. E, se acho que peguei pesado, peço desculpas. E construo uma relação de amizade, confiança... uma forte relação de amor.

Está na minha veia ser professora. Quando ouvi minha aluna particular me dizendo que fui a melhor professora de Língua Portuguesa que ela já teve, fiquei muito feliz. E isso não quer dizer que eu saiba muito. Quer dizer que o que preciso ensinar, ensino com amor.

Bateu uma vontade de deixar tudo como está. Desistir de tentar outra vida...

Juliana Mendes Velludo Guidi
Crônicas - http://www.usinadeletras.com.br - 10/07/2011