Perguntei ao vento o que faço com minha dor.
Disse-me:
-Largue-o, deixe-me escondê-lo nos galhos de um álamo, deixe-me transformá-lo em canção que brota do peito de um pássaro.
Perguntei ao rio o que faço com minha dor.
Disse-me:
-Devolva-me, deixe-o virar água e despeje-o na minha causa, para que o levei de volta ao mar e lá o vá buscar quando precisar.
Perguntei ao sol o que faço com minha dor.
Disse-me:
-Queime-o, que arda, que destrua que consuma, que se torne cinzas e depois sopre.
Perguntei à terra o que faço com a minha dor.
Disse-me:
-Semeie-o, deixe-me encarregar-me de transformá-lo em algo belo, que cresçam as raízes que te seguram, e nos ramos da ferida se pose o beija-flor que um dia te devolverá o sorriso...
(Valdir Ubiratarra da Rosa)