"Nem sempre a vida será contada da forma que imaginamos. Aliás, muito mais vezes do que gostaríamos, o chão se abre, as paredes racham, a chuva invade os cômodos por frestas no telhado.
Porém, são essas mesmas rachaduras que permitem que a luz entre e a gente consiga enxergar a vida e as coisas de uma forma totalmente nova.
Ou nos conduzem a uma jornada que jamais teria sido iniciada se não tivessem ocorrido rupturas. É preciso criar laços com nossas inadequações, respeitar nossas lágrimas, abraçar nossas contradições.
Sem medo de que a vida nos machuque. Porque a vida vai nos machucar de vez em quando, até naqueles momentos que a gente imaginou perfeitos. E está tudo bem.
Regras, roteiros, calendários e planos existem para nos ajudar a nos organizar, mas a vida em si é muito maior que isso, e pode mudar num piscar de olhos.
E é bom que mude, que nos desoriente por algum tempo, balance nossas convicções e dê uma sacudida em nossos conceitos para que nunca nos esqueçamos que o que nos faz crescer é o inesperado.
Sempre é. Não defendo a dor nem os conflitos, mas abraço a sabedoria de Rubem Alves na reflexão 'Ostra feliz não faz pérola' ou na frase: 'Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira'.
Às vezes, lamentamos a dor, as rupturas, despedidas e falhas. Mas são elas que possibilitam a entrada da criatividade, poesia e arte. O mesmo fogo que queima e causa sofrimento é o fogo que transforma o grão de milho em pipoca.
Então não remoa mágoas e delete tudo que te faz mal, mas aceite que é impossível controlar a dança dos dias e das horas. A vida nos invade, fere, alegra, queima, arde… e, finalmente, nos transforma."
(Fabíola Simões)