CHEGUE NA PAZ

16 de jul. de 2020


A Arte de se Levantar 

Algumas pessoas passam pela vida correndo, sem tempo de parar nem de sonhar. Outras andam olhando para trás, com eterna saudade do que não voltará. Há quem dance por todo o caminho, e enquanto se move, vai parindo a vida no seu cantar. Não importa como a gente avança, o mais importante é que todo mundo, mais cedo ou mais tarde, cairá. No final das contas, o que faz a real diferença está apenas em como a pessoa faz para se levantar. Essa é a arte.

Quando a criança aprende os primeiros passos, ela cai muito mais do que caminha. Cada queda é um passo a mais, não para aprender a andar, mas para aprender a levantar. Pois essa coisa de ir de um lugar ao outro, de sair daqui sonhando que a gente vai chegar lá, isso tem muito mais de magia do que de matemática. 


Cada passo é o grande desafio e uma tremenda conquista. Estamos sempre escalando, subindo ou descendo alguma montanha íngreme, sempre prestes a cair no abismo. Aliás, é ele que nos obriga a seguir em frente, ainda que nos seduza com a desistência. É dele que vêm as alturas que povoam os sonhos e nos ensinam a voar, que nos fazem acreditar mais na aventura do que na desventura.

Cair é a frustração. É o que a maioria das pessoas faz durante grande parte da vida. Como não frustrar-se? Quanto mais perto chegamos do espelho, mais nos dissolvemos no entendimento de que não passamos de poeira cósmica. Somos partículas de areia, sublimes grãos de nada flutuando num universo desconhecido sem saber de onde viemos nem para onde vamos. 

Entender isso organicamente é abraçar a queda livre da humanidade rumo ao grande vazio. É saber que qualquer coisa que fazemos será, por natureza, esmagada em sua insignificância pela magnitude de todo o resto, pelos gênios que fizeram ou farão melhor que nós, pelos grandes mestres da história humana. Já começamos a viver derrotados pelo fato de que vamos morrer.

É a plena consciência da derrota primordial, não a fuga nem a distração, mas o mergulho nesse suplício que pode nos libertar. É na queda que encontramos a força, o impulso para ir além do que pensamos ser capaz. 

No outro lado de nós, encontra-se a escuridão e é nela que mora a visão. Da luz das estrelas pulsando na noite, da lua cheia e intrigante, amante sublime e brilhante, levantando-se dos braços ondulantes do mar. A percepção do momento, superando-se em sua própria existência, sem razão de ser nem nada para provar. É a força da vulnerabilidade, onde eu e você, além do que pensamos ou acreditamos, podemos nos encontrar.
Antonella Yllana