Tantas vezes me perguntei como agir após uma emboscada do destino, uma traição da vida, um momento infeliz. Se através da razão ou da emoção. Muitos exemplos me ensinam a fazer o uso do bom senso, do equilíbrio, sem saberem, todavia, se meu coração navega num mar de tranqüilidade ou está perto de explodir de emoções absolutamente impossíveis de conter. Mas como condenar tantos avisos que, embora, pareçam sábios, esses conselheiros não podem ver o que está oculto dentro do meu peito?
Fico cismando de vez em quando de como utilizar a razão quando precisamos cuidar das coisas da alma e do coração? Como raciocinar livre para desprezar um passado que continua presente? Como construir o futuro com os tijolos do bom senso se as paredes do nosso espírito são desenhadas com a tinta rubra da emoção? Como tomar decisões à luz da razão quando nos corredores da nossa existência vivem em estranhas núpcias, o amor, as suas perdas, suas conquistas, o ciúme, a desforra, o despeito, uma saudade que nunca finda?
Como viver afinal, entre a razão e a emoção, sem que nosso interior seja o grande palco de um duelo sentimental entre essas duas guerreiras da alma, que confundem nossos sentidos, brincam com o tempo, criam e matam esperanças, desafiam a felicidade, julgam, absolvem e condenam tantos outros sentimentos.
Se muitos pudessem ver o teatro oculto do nosso espírito não ficariam a exigir que nossos atos naveguem sempre nos mares serenos da prudência. Se pudessem devassar as cortinas que escondem nossas inquietações mais íntimas veriam que a razão da emoção é a maior verdade de todas as verdades. A razão é dura. A emoção sonha. A razão é fria. A emoção é ardente. A razão é insípida. A emoção é doce. A razão é imparcial. A emoção toma partido da paixão, tem o olhar da alvorada, a sensibilidade do crepúsculo.
Jamais os amores que tem o cheiro do eterno começaram no berço da lógica. Nem um gesto de razão deu início aos olhares que escreveram histórias que só os corações apaixonados sabem contar. Ninguém, na realidade, se encanta com as esquinas enluaradas, com o caminho das estrelas, com a poesia saída das almas dos amantes tocadas pelas flechas da razão. São os dardos da fantasia que escrevem no livro da vida todas as receitas que contam as procissões de emoções que andam pelo nosso interior.
A razão é apenas a tinta sem perfume que ensina e conserta as coisas materiais. A emoção conserta a vida, o amor, o desamor. Muitos dizem que a razão é que desenha a calma nas faces dos homens. Mas o que importa, se algumas vezes, a emoção nos faz derramar um pranto que não cessa? Só choramos pelo o que amamos. Pelo que queremos ardentemente. Pelo que perdemos. Pelo que nos sufoca o alma ou nos acelera o coração.
A efemeridade da vida ensinou-me que posso renunciar a tudo, exceto ao amor, ao que remexe minhas entranhas, ao andar das emoções que me fazem adormecer num floco jaspeado de nuvens.
O caminhar intrigante do tempo fez com que eu me encantasse pelos perfumes do desconhecido, por um sonho que ainda não sonhei, por uma manhã que ainda não vivi, pelo colorido de uma emoção que ainda vai acontecer. Pouco importa o futuro se a história que ele vem contando a insipidez da razão há muito já me confidenciou.
Noelio Mello - Belém/PA