CHEGUE NA PAZ

6 de set. de 2010

Chegas... (Poesia)

"Chegas e de repente eu me pergunto como pude ser poeta
antes de ti, antes de nossas horas encandeadas?
Como pude escrever coisas que agora me parecem belezas mutiladas?
Chegas, e de repente me surpreendo de que ainda haja surpresas
para o amor, marcado como estou de cicatrizes;
Eu que escrevera um dia amargurado:
"- Agora em meu caminho só reprises."
Chegas e eu adolesço de alma e corpo e de repente, num verão
que abrasa como nunca pensara nem supus, sou todo novos ramos, verdes ramos, sou todo sol numa eclosão de luz;
E nessa ânsia de amor que me sufoca que te sufoca como uma onda,
e cresce, e invade tudo, e é o tema de meu canto,
só um desespero surdo me consome:
É perceber quanto perdemos; e me deixar a imaginar a vida que não viveste, mas que te manchou com a lembrança de inúteis pensamentos, esta vida afinal que eu nem sabia e agora solto como um lastro aos ventos;
Jogo aos ventos, enquanto ascendo e vejo em teus olhos um mundo
de ninguém e uma paisagem que ainda está sozinha;
Oh! meu amor, tudo é começo e é novo agora que sou teu e te sei minha;
Um mundo que eu nunca suspeitara;
E eu que falava em mundo antes de ti, como se antes de ti pudesse ser;
E eu que falava em vida antes de amar-te;
E eu que falei de amor, sem nada ter;
Chegas... E de repente me pergunto que amor é esse que viveu sem ti? Que flores, se não houve primavera?
Ah! nascemos agora, um para o outro, e antes não fomos mais que vã espera. Antes, não fomos mais que espera vã...
E agora que existimos nesse amor, penso que se afinal não te encontrasse, o amor teria sido uma palavra, uma palavra inconseqüente e fútil, nada mais, nada mais que uma palavra; e outra palavra a vida, e só palavras
todo o meu canto ... e esse caminho inútil ... "

(J.G. de Araujo Jorge)