Entre o que digo e o que sinto...
Em português, dizemos: “Eu não sei o que fazer com a saudade.”
Mas na poesia, dizemos:
“Vago pelos espaços vazios onde a tua ausência repousa,
e deixo que o silêncio se transforme em grito dentro de mim.”
Em português, dizemos: “Quero esquecer.”
Mas na poesia, dizemos:
“Enterrei as tuas promessas no fundo da minha alma, mas a terra nunca soube tapar o eco das palavras que nunca se disseram.”
Em português, dizemos: “Sinto-me partido.”
Mas na poesia, dizemos:
“As fraturas do meu ser não se fecham, e cada pedaço quebrado carrega a marca da tua ausência.”
Em português, dizemos: “Eu só queria que tudo fosse mais simples.”
Mas na poesia, dizemos:
“Dei corda a relógios que não sabem contar o tempo, e esperei que as horas se acomodassem ao ritmo do nosso amor que já se desfaz.”
Em português, dizemos: “Espero que a vida te sorria.”
Mas na poesia, dizemos:
“Que o vento que toca o teu rosto seja suave, como o último suspiro que trocamos, nas sombras do lugar onde já não somos.”
Em português, dizemos: “Não sei como perdoar.”
Mas na poesia, dizemos:
“Cravei-te no peito a dor de um amor que se despedaçou, e agora, cada batimento é um pedido de paz que nunca chega.”
Em português, dizemos: “Eu queria voltar atrás.”
Mas na poesia, dizemos:
“Fiquei na fronteira entre o que desapareceu e o que jamais existiu, uma sombra no teu horizonte que permanece invisível.”
Em português, dizemos: “Estou a tentar seguir em frente.”
Mas na poesia, dizemos:
“Cada passo que dou é um espelho quebrado, e a minha sombra ainda carrega o peso do que me foi arrancado.”
Em português, dizemos: “Eu vou superar.”
Mas na poesia, dizemos:
“Juntei os pedaços da minha alma como se fossem fragmentos de vidro, sabendo que, por mais que tente, há partes de mim que nunca cicatrizam.”
E assim, entre o português comum e o português poético, há uma linha ténue que se estende entre o dito e o não dito.
O português comum diz o que a boca sabe de cor, enquanto o poético diz o que o coração aprendeu a esconder.
O português comum se limita ao imediato, ao simples, mas o poético busca a alma das palavras, além daquilo que se vê, do que se toca, do que se sente.
É na poesia que a saudade ganha peso, onde o silêncio se torna mais barulho que a palavra, onde o amor não cabe no corpo, e as feridas falam mais alto que os sorrisos.
O português comum é prisioneiro do tempo, mas o poético vive entre os espaços, onde o passado e o futuro se tornam fragmentos
e o presente se dissolve em metáforas.
Porque, na poesia, a verdade nunca é só uma, é sempre o reflexo de todas as possíveis versões de nós mesmos.
E é nessa diferença que encontramos a beleza:
o português fala para ser entendido, o poético, para ser sentido.
= Poeta Estrábico =