A louça fica na pia, a tv fica ligada, o livro fica aberto numa página que não será mais virada.
A estrada chega ao fim.
Roupa no varal, lençol esticado, casa limpa, toalha sobre a cama, móvel no mesmo lugar.
A estrada chega ao fim.
Chinelos na entrada da porta, mesa posta, café frio na caneca, retrato empoeirado, lista na geladeira.
A estrada chega ao fim.
Aqueles aos quais eu feri, continuarão a caminhar e, talvez, nem se lembrarão mais de mim.
A estrada, a minha estrada, chega ao fim.
E virão novas primaveras, novos brotos surgirão e as estações continuarão mudando, sem mim.
E haverá partidas e chegadas, encontros e despedidas, novos amores, novos amigos e reconstruções. A vida continuará, sem mim.
E hoje, enquanto posso respirar, a minha prece mais bonita é: se nada levarei daqui, que eu saiba deixar boas memórias no coração das pessoas.
(Eunice Ramos)