CHEGUE NA PAZ

17 de set. de 2024



"Esqueça sexo e beijo na boca. É incrível como é possível fazer essas duas coisas sem qualquer intimidade. Passar algumas horas pelados, beijando e transando não é o mesmo que tornar-se íntimo de alguém. A intimidade, para começar, nem é algo físico. Pode até se expressar fisicamente, mas nunca começa por aí. 

A intimidade mora na alma, na troca de olhares, no silêncio das conversas que dispensam palavras.

Acontece no encontro do que há de mais profundo em mim com o que há de mais profundo em você. E isso, muitas vezes, acontece sem sexo. Intimidade é o espaço onde posso existir como sou, com minhas imperfeições, virtudes, posições, pensamentos e vícios.

Intimidade é onde posso existir na medida em que o outro me abriga. É poder dizer ao outro aquilo que calo para os demais. De todas as intimidades possíveis entre duas pessoas, nenhuma é mais profunda do que a sinceridade. Intimidade é poder dizer a verdade.

Não a verdade absoluta, porque ela não existe, mas poder dizer as minhas verdades. É ter a leveza de um lugar seguro, distante dos juízes que estão sempre prontos para me julgar. 

Intimidade é raiz que alcança o mais profundo da terra, firmando relacionamentos em solo estável, preparados para enfrentar os vendavais. 

É lugar onde as mentiras não precisam de justificativas e as verdades não precisam de defesa. E isso não acontece do dia para a noite. Intimidade é construção que demanda tempo e investimento.

Por isso, há cada vez menos pessoas íntimas: porque a velocidade e superficialidade de tudo colocaram os relacionamentos profundos em extinção. Tudo é líquido.

A tragédia é que, sem intimidade, somos escravos da aparência, para agradar outros que também não passam de escravos. A vida sem intimidade é vazia, oca, ilhada – o tipo mais popular do momento."

(Silvana Ruas de Camargo)