Aos 20, imaginei que era cetim. Brilhante, ruidoso e escorregadio. Cama para a perdição dos sentidos.
Aos 25, me abriu a temporada da primavera. O amor virou pano de chita. Flores e fecundação. Reprodução colorida.
Aos 30, desejei fazer uma colcha de retalhos, juntando das pessoas só os pedaços que eu gostava.
Aos 35, minha alma sentiu frio e eu desejava o amor como um xale jogado nos ombros.
Aos 40, comecei a admirar os panos remendados, refeitos pela esperança, cerzidos com persistência.
Já não desejo a bela toalha de banho engomada, que não seca o corpo. Ou o edredom novo que não cola na pele.
Entendi que amor é ninho. Trama reforçada para suportar os atritos. Tecido grosso que se costura nas roupas de criança na altura dos joelhos e dos cotovelos. Confiança e proteção.
Fico imaginando o que irei aprender sobre o amor nos próximos anos. Talvez, tendo compreendido um pouco sobre o seu feitio, eu possa agora me dedicar aos delicados bordados à mão.
(Érica Toledo)