Eu tinha um amor para lhe dar, um sentimento sem medida. Estiquei-lhe os braços com vontade de o abraçar e ele abraçou-me sem vontade de ficar. Ele limitou-se a prometer uma paixão de que fugiu depois de uma noite que ninguém saberá apagar.
Mas, eu sei que um dia ele vai querer voltar ao lugar onde a verdade de um amor lhe fez arrepiar a pele. Vai querer voltar ao minuto em que o seu desejo gritou de olhos fechados para que amanhã já não se lembrasse do nome que durante a noite tantas vezes chamou.
Ele era assim, amava de noite para se esquecer durante o dia. Só que o que ele não sabe é que o destino é sábio e um dia ele passará por mim e não resistirá à tentação de recordar o sorriso daquela que o amou numa noite, que ainda lhe mora na memória, talvez por não lhe ter feito qualquer exigência.
E então irá ver nos meus lábios a palavra que lhe falta para ser feliz. Tentará olhar sem ser visto, continuará a caminhar assobiando uma música que passava na rádio naquela longínqua noite em que os nossos corpos se amaram ao ritmo de um desejo que sucumbiu ao fim de poucas horas.
Continuará o seu caminho espalhando o cheiro do seu sentimento que me irá querer dizer que o passado voltou e que suspira por mim. Voltará mas o meu coração, em silêncio, irá dizer-lhe que já esqueceu a dor que ele lhe ofereceu.
E dor esquecida é memória arrumada, dor esquecida é um sorriso novo nos lábios da mulher que um dia foi abandonada.
Ele voltará, mas terá que entender que somos vidas desencontradas a quem o destino desenhou duas estradas. Ele chegou por um atalho e eu continuei pela avenida principal da minha vida.
(angela caboz)