CHEGUE NA PAZ

5 de nov. de 2023



Após os cinquenta anos, você não aguenta mais as restrições.

Você não suporta o sutiã muito apertado, os jantares forçados com a cunhada que verifica a poeira em seus cantos, os saltos altos nas pedras e os sorrisos das circunstâncias.

Aos cinquenta você não quer mais provar.

Você é quem você é, as coisas que você fez e as coisas que você ainda quer fazer.

Se estiver tudo bem com os outros, tudo bem. Caso contrário, é assim mesmo.

Após os cinquenta, não importa se você teve filhos ou não. Você ainda será a mãe: de sua mãe, de seu pai, de uma tia deixada sozinha, de seu cachorro ou de um gato careca que você pegou na rua.

E se tudo isso não estiver lá, você será sua própria mãe. Porque ao longo dos anos você terá aprendido a cuidar de um corpo que finalmente ama, em que ele se torna cada vez mais imperfeito apenas aos olhos dos outros.

Quem se importa se metade do armário é do tamanho errado.

O importante é que suas costas não rangem muito ao se levantar, que ao tocar seus seios não sinta bolas e que a menstruação finalmente se torne um problema para os outros.

Após os cinquenta você quer liberdade. Livre para dizer não, livre para ficar de pijama todo o domingo, livre para se sentir bonita por si mesma e não pelos outros.

Livre para andar sozinho: quem te ama acompanhará você, quem se importa com os outros.

Você é livre para cantar em voz alta em seu carro, mesmo se olhar mal para você nos semáforos.

Você não terá mais registros de aulas para verificar ou bate-papos de mães para suportar.

Você terá sonhos como em seus vinte anos e pedirá a Deus tempo para realizar mais.

Você terá se despido pelos homens que amou e pelas inseguranças que a fizeram tremer.

E agora, justo agora que você comeu metade de sua vida em grandes mordidas e com pressa, você encontrará o desejo de saborear lentamente todo o açúcar e sal dos dias à sua frente.

(Irene Rene)