“Por muito tempo eu quis pegar as dores de quem eu amava e tomá-las para mim. Contudo, entendi que algumas cruzes são intransferíveis e que cada pessoa tem um deserto particular a atravessar.
Cada acontecimento seja ele bom ou ruim traz a nós ensinamentos preciosos a seu tempo. Logo, ninguém pode viver uma vida como se estivesse envolto em uma redoma de vidro. Até porque a vida um dia nos cobrará o resultado desses aprendizados.
Não dá para blindar o outro e fazê-lo imunes a todas as maldades do mundo. Quem dirá às decepções humanamente inevitáveis. Só dá para prestar apoio ao que nos cabe e oferecer o nosso ombro amigo. Nada além disso.
A vida já nos demanda demais com nossas dores e não dá, infelizmente, para salvarmos o mundo inteiro. Quem dera termos superpoderes para mantermos sãs e salvos a humanidade de toda a perversidade que há no mundo. Mas não, não há super-heróis e nem salvadores da pátria.
Há apenas pessoas de carne, sangue e suor. Pessoas que enfrentam seus próprios demônios, sofrem as próprias dores e lutam suas batalhas diárias.
Precisamos entender que a vulnerabilidade do outro também pode existir e todos nós temos o direito de sofrer e nos reerguermos sozinhos ou, quem sabe, com a ajuda de alguém. O que não podemos é querer tomar para nós uma cruz que não é nossa.
Por mais que amemos alguém precisamos deixar que o outro seja livre para trilhar seus próprios caminhos, sofrer suas próprias dores e, assim, construir sua própria história.
Amar não é sobre tomar as dores dos outros, torná-lo intocável ou uma divindade. É sobre deixar o outro livre para viver suas próprias experiências e dar autonomia para que ele escolha por quais caminhos seguir.”
(Pâmela Marques)