CHEGUE NA PAZ

21 de abr. de 2020


Um espinho na dor

Em luz etérea de branco vestido
cintilando ao luar,
clamava um espinho,
arcado d’algor no seu pesar,
e em preceito sublimado
orava na dor do seu altar…

Em ais no tempo enlaçado
se ia no seu passado…
Esse brado no silêncio detonado
arguiava o Céu à terra, em pecado,
iluminando o consagrado!..

Olhava as estrelas
meditando sozinho,
sangrava nele ainda
o cálice do divino!
Quão tenebroso dia
colado ao seu destino…

Soldado da manhã ao sol pôr
se queixava em ar contristado
no prelúdio da paixão…
E, no sino do tempo adormecido
se prostrava em expiação
aos pés da cruz em oração…

Nele tinha a dor
lacrimada de sangue,
do que por amor
morreu sem gemer
sem um ai soltar, ou estremecer…

Humilde na cruz!
Divino na luz!

Um anjo o vendo chorar
se aproximou,
bebeu suas lágrimas
e lhe perguntou…
-De que choras tu sozinho
na imensidão do caminho,
como um calvário de cruz…?
Trazes em ti tanta dor
que no meu peito de amor
julguei… sangrava Jesus!

Sofrido o compungido
em ar de zelo atristado
falou num ai padecido
por entre o Céu estrelado
e no véu da noite repentino
lhe implora o divino!

A mão no peito tremendo,
lhe diz num ai apertado…
Sou o espinho cravado
no corpo do tão sagrado,
em dia de escuro breu…
O céu chorou como eu…
até a terra tremeu
e Deus Pai no céu gemeu!

Não dês de beber à dor
nem desamor que maltrata,
fala o anjo enternecido
ao espinho que se acata….
Um clarão! Ah, que o bendito
já bafeja de um bordão,
minhas lágrimas de aflito
em louvores e compaixão…

Olha para mim triste espinho,
eu anjo, outrora menino,
como tu tenho também
toda a luz do salvador…
Essa que as almas seguem
como aves no além
e num lampejo de alvor
se unem a nós também…!

Beija-me a alma teu pranto,
que o tempo sobrevoou !
E esse sangue brilha em ti!
Testemunho, o confessou,
na luz que em ti senti!

Nas asas do teu destino
tiveste Deus no caminho!

-Obrigado anjo de amor,
já sinto menos algor.
Brilho contigo em fulgor,
sou o espinho da dor
em dia de escuro breu…
Sou testemunha da luz
que ao morrer nos deu Jesus…!

(Isabel Maria Miranda)
Maribel