CHEGUE NA PAZ

21 de ago. de 2019

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Um dia chegará em que, num determinado momento, um médico comprovará que meu cérebro deixou de funcionar e que, definitivamente, minha vida neste mundo chegou ao seu fim. Quando tal coisa acontecer, não digas que me encontro em meu leito de morte.

Estarei em meu leito de vida e cuida para que esse corpo seja doado para contribuir de forma que os outros seres humanos tenham uma vida melhor.

Dá meus olhos ao desgraçado que jamais tenha contemplado o amanhecer, que não tenha visto o rosto de uma criança ou, nos olhos de uma mulher, a luz do amor.

Dá meu coração a alguma pessoa cujo coração só lhe tenha valido intermináveis dias de sofrimento. 


Meu sangue, dá-o ao adolescente resgatado de seu automóvel em ruínas, a fim de que possa viver até poder ver seus netos brincando ao seu lado.

Dá meus rins ao enfermo, que deve recorrer a uma máquina para viver de uma semana à outra.

Para que um garoto paralítico possa andar, toma toda a totalidade de meus ossos, todos os meus músculos, as fibras e os nervos todos de meu corpo.

Mexe em todos os recantos de meu cérebro. Se for necessário, toma minhas células e faze com que se desenvolvam, de modo que, algum dia, um garoto sem fala consiga gritar com entusiasmo ao assistir a um gol, e uma garotinha surda possa ouvir o repicar da chuva contra o vidro da janela.

O que sobrar do meu corpo, entrega-o ao fogo e lança as cinzas, ao vento, para contribuir com o crescimento das flores.

Se algo tiveres que enterrar, que sejam os meus erros, minhas fraquezas e todas as minhas agressões contra o meu próximo. 

Se acaso quiseres recordar-me, faze-o com uma boa obra e dizendo palavras bondosa ao que tenha necessidade de ti.

A morte não é tudo. Não é o final. Eu apenas passei para a sala seguinte. Nada aconteceu. Tudo permanece exatamente como foi. 

Eu sou eu, você é você, e a antiga vida que vivemos tão maravilhosamente juntos permanece intocada, imutável. 

O que quer que tenhamos sido um para o outro, ainda somos. 

Chame-me pelo antigo apelido familiar. Fale de mim da maneira que sempre fez. Não mude o tom. Não use nenhum ar solene ou de dor. 

Ria como sempre fizemos das piadas que desfrutamos juntos. Brinque, sorria, pense em mim, ore por mim. Deixe que o meu nome seja uma palavra comum em casa, como sempre foi. Faça com que seja falado sem esforço, sem fantasma ou sombra. 

A vida continua a ter o significado que sempre teve. Existe uma continuidade absoluta e inquebrável. O que é esta morte senão um acidente desprezível? Porque ficarei esquecido se estiver fora do alcance da visão? Estou simplesmente à sua espera, como num intervalo, bem próximo, na outra esquina.

Está tudo bem..!

LUZ DA ALMA