“O divisor de águas entre os ensinamentos espirituais sagrados e os ensinamentos da ciência contemporânea é a fé. A ciência tende a estabelecer e fortalecer verdades através de métodos e sistemas racionais, concretos, lineares, compreensíveis e limitados. Por sua vez, as verdades espirituais e sagradas são irracionais, ilimitadas e incompreensíveis para uma mente humana comum. Sustentam-se em um plano acima da normalidade consensual coletiva.
Transitam pelo mundo dos mistérios. Somente com arrojo, coragem, pureza, entrega e fé o homem pode acessar este nível sagrado. Um caminho ainda para poucos. Mesmo assim, a atual ciência da física quântica, através de seres de vanguarda, já aborda a possibilidade de um comportamento atômico irracional e imponderável, com total disponibilidade [...] A religião assumida pelo sábio não tem nome nem definição, não tem doutrina estabelecida nem crenças sedimentadas, não tem idolatria nem apologia. Estabelece-se constantemente em sua consciência e renova-se a cada momentum presente, acompanhando o movimento intermitente dos astros e da sua respiração. É um estado de constante fé e entrega à impermanência da Fonte. É autêntica presença espontânea na consciência do Todo [...] Certas instruções e realidades espirituais não requerem explicações. Estão aí para desenvolver a fé no buscador, virtude essencial para um ser elevado [...] O homem elevado vive sob os auspícios da fé. Chega a ser julgado e incompreendido por isto. Não tem a certeza intelectiva exata de como a obra divina se realiza, nem tem interesse nisto, apenas se entrega e aceita o mistério. Contempla. Sabe dentro de si que está seguindo o caminho certo, através de insights, e que a vida superior o apoia [...] Aquele que vive a sua espiritualidade no ouvir falar ou no que lê em livros de ensinamentos está limitado às verdades dos outros, da sua vida externa. O desenvolvimento da espiritualidade é também um processo de busca pessoal interna, onde o ser tem que viver a sua experiência direta, imanente e transcendente. É preciso se aventurar pelos mundos da fé e do desconhecido, desvelar o oculto e o mistério que traz resguardado dentro de si próprio, internamente. Não se sacia a fome ouvindo-se falar onde se tem o alimento, mas procurando-o e degustando-o [...] O respaldo da razão pessoal é de vital importância para que o ser humano possa transitar pelo caminho rumo ao desconhecido. Até mesmo para se acolher as verdades irracionais, a razão deve ofertar a sua disposição e o seu aval. Não deve gerar contraposição, mas se portar como um sábio investigador. Deve resguardar um estado de crença, onde a fé possa fluir livremente. Enfim, a razão pessoal deve adquirir a sabedoria do desapego, da sutilidade e do tempo não linear, para que os mistérios do divino possam ser revelados [...] O homem de fé não anseia por saber quem são os seus guias, se compraz em perceber internamente que está seguindo rumo à luz, orientado internamente. Quanto melhor for um guia, maior a sua capacidade de prestar o seu serviço sem se fazer notar. Mais sutil é a sua presença. É pura luz, sem forma, sem imagem, sem cor, sem som, sem nome... somente luz.”
(Do livro “VIA TERRA, Caminhos da Luz”, Horácio Netho)
(Do livro “VIA TERRA, Caminhos da Luz”, Horácio Netho)