30 de ago. de 2014
O que faz você feliz? Pergunta a música. Fico aqui tentando responder. Estar com amigos? Estar com meu amor? Saúde? Sorvete em dia de calor? Viver perto do mar? Trabalhar na megalópole? Quer saber, acho que não é este o caminho da minha resposta. Ontem pensei que viver numa cidade rural fosse a resposta. Vida simples. Vida boa. Penso diferente agora. A questão não é estar na natureza ou vivendo em uma metrópole. A questão é viver com alma, onde quer que se esteja. Dando sentindo ao existir.
Parece que quando estamos em meio à natureza, numa cidade pequena, isto se torna mais fácil, temos menos distrações. A ambição pode ficar mais preguiçosa, os laços de amizade e solidariedade podem se estreitar. Menos tensão, menos stress. Será? Olho para o interior do país e vejo ainda muita gente infeliz. O que pode trazer felicidade para mim pode ser infelicidade para você. Mais uma vez a questão é interna, subjetiva. Independe de onde estou para ser ou não feliz. O céu e o inferno são internos. Pra ser feliz é preciso do básico: gostar de sua vida. Sentir que sua vida tem sentido, que se encaixa, sentir amor, muito amor por sua própria vida e pela dos que se veem pelas calçadas, pelas ruas, entre paredes de seu lar.
Colocamos muita expectativa no emprego dos sonhos, no casamento, nos filhos, amores, viagens, comidas, roupas, sapatos, achando que a felicidade está lá. Não está. Lá vivem sonhos, pequenas alegrias, prazeres, o que não deixa de ter um sabor agradável. Mas não é felicidade. Até porque a vida é inconstante. Não dá para cristalizar o momento e torná-lo eterno. Ele passa. E o que hoje lhe dá alegria, amanhã poderá vir a ser um tormento de enormes proporções. A felicidade vai por dentro, corre nos sangues, dá frutos íntimos. Ninguém vê. Não dá para pesar, medir, aferir. O meu senso de felicidade é com certeza diferente em tudo do seu. Mas felicidade deixa rastros.
Gente feliz faz bem ao ambiente. Traz leveza e esperança. Melhora a humanidade. Melhora o sistema imunológico pessoal e coletivo. Felicidade só em parte é um bem individual. Ela só se fortalece quando coletiva. Quando a maioria desfruta deste estado de espírito. E vai daí que a minha felicidade íntima contribui para a construção da sua. E vice-versa. Quando o coração enfim se abre para amar a vida, a primeira coisa que acontece é que nossa sensibilidade é ferida, tocada, pedindo para nos mantermos acordados, atentos. Isso nos faz sofrer.
Olhar para a fome, o abandono, a dor física, a morte, faz-nos sofrer. Saber que hoje almoço e que em algum lugar do planeta uma criança pequena morreu, de sede e de fome, tira meu apetite. Dá para ser feliz nesse mundo, afinal? Sim, isso é o primeiro passo: amar muito e escolher continuar acordado para a realidade, para em seguida, agir a favor deste mundo, encarando os sofrimentos para criar mais beleza, sem que seus olhos deixem de ver lindeza por todas as partes. E aí, a vida fica repleta de sentido, gerando alívio, cultivando o belo, podendo se sentir feliz, respirar a plenos pulmões, ser livre e amável.
Abra um caminho para que sua alma volte a ser a voz a guiá-lo nessa vida, inundando sua personalidade de uma vitalidade criativa, lúcida, amável, desde o primeiro momento, para que você se sinta de novo em harmonia com a vida, enxergando-a onde outros já não podem mais vê-la, cultivando intimamente o seu jardim secreto e dele compartilhando com os que estão ao seu redor.
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