CHEGUE NA PAZ

4 de nov. de 2013


Afinidade é um dos poucos sentimentos 
que resistem ao tempo e ao depois.
A afinidade não é o mais brilhante,
mas o mais sutil, delicado 
penetrante dos sentimentos.
É o mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência,
os adiamentos, as distâncias, 
as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro 
retoma a relação, o diálogo.
Ter afinidade é muito raro.
Mas, quando existe, não precisa de códigos 
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, 
irradia durante e permanece depois 
que as pessoas deixaram de estar juntas.
Afinidade é ficar longe pensando
parecido a respeito dos mesmos fatos 
que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro 
com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com,
Não é sentir contra,
Nem sentir por,
Nem sentir pelo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou,
quando é falar, jamais explicar ,
apenas afirmar.
Afinidade é ter perdas semelhantes
e iguais esperanças.
É conversar no silêncio,
tanto nas possibilidades exercidas quanto 
das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto
em que parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades
dadas (ou tiradas) pela vida.

(Arthur da Távola)