CHEGUE NA PAZ

22 de mar. de 2013

O indivíduo se sente, muitas vezes, no dever moral de criticar a postura que julga inapropriada. O direito de proferir críticas, imprescindível à sociedade democrática e à evolução consciencial da humanidade, invariavelmente se apresenta como desafio àquele que a profere e àquele que a recebe. De um lado, o desafio de ser emissor de críticas construtivas, ponderadas, movidas por pensamentos e sentimentos sadios, perante a ótica de padrões universais de ética e razoabilidade.
Por outro lado, o desafio de reagir de forma construtiva à critica recebida, de modo que se possa colher de tais observações o máximo de utilidade ao melhoramento íntimo, mediante uma postura de verdadeira auto-avaliação, que transcenda o discurso de vitimização, os mecanismos de defesa do ego, o rancor e a soberba dissimulados, as limitações, em suma, criadas pela ilusão de grandeza, pelo receio de ver suas âncoras psicológicas desintegradas e pela resistência a questionar, com afinco e sobriedade, os condicionamentos a que se afeiçoou.
Em nome do respeito ao discernimento, à coerência doutrinária e à lealdade aos princípios morais cultivados por si, o indivíduo adepto de determinada corrente de pensamento espiritual se vê instado a dividir a humanidade entre bons e maus, avançados e atrasados, fiéis e heréticos, lúcidos e incautos, despertos e obsedados, esclarecidos e néscios.
Nos movimentos e correntes de pensamentos espirituais, essa tendência atávica de classificar e categorizar leva o ser a identificar condutas que lhe parecem mistificações, pseudo-sabedoria, fascinações, "viagens na maionese", crendices pueris. Muitas vezes, tais conclusões negativas são ponderadas, ponderáveis e inevitáveis. Ocorre que, às vezes, o indivíduo se insurge contra os aspectos deletérios da linha de pensamento de que discorda e se esquece de refletir se nela há algo de positivo que lhe sirva de subsídio em matéria de reforma íntima e ampliação de horizontes conscienciais. Prefere a análise percuciente das deficiências da ideologia alheia e, em contraste, considerações superficiais acerca dos traços positivos de tal corrente de pensamento.
Devemos ponderar mais sobre o conteúdo das obras de temáticas espirituais e nos preocupar menos se o médium é falso ou se o espírito que lhe dita a obra é zombeteiro, porque, ao final, o que interessa é se o teor da obra tem algo a acrescentar a nossa evolução.
Muitas vezes, juízos de valor sobre a seriedade de determinados espíritos ou médiuns são condicionados pela adequação ou não do pensamento deles a doutrina com a qual temos afinidade. Mais relevante do que questionar a integridade moral, psíquica e espiritual alheia é questionar em que as opiniões e vivências alheias podem ser úteis a nossa jornada evolutiva.
Importante não apenas aprender com os erros alheios, mas também saber apreciar os pontos luminosos daqueles de quem discordamos, o que, as vezes, é posto em segundo plano, ofuscado pela conveniência e pelo deleite de fulminar a ideologia antípoda.
Essencial exercer nossa missão de vida(ou a que imaginamos que seja) de maneira digna, dentro e fora do lar. Se errar é inevitável, podemos ao menos acalentar o ideal de nos mantermos em harmonia com nossa consciência moral, contando que no dia-a-dia nos empenhemos, de fato, para alcançar essa finalidade.

(Hidemberg Alves da Frota)