29 de jan. de 2013


O menino voltou-se para a mãe e perguntou:
- Os anjos existem mesmo?
Eu nunca vi nenhum.
Como ela lhe afirmasse a existência deles,
o pequeno disse que iria andar pelas estradas,
até encontrar um anjo.

- É uma boa ideia, falou a mãe.
Irei com você. 
- Mas você anda muito devagar, 
argumentou o garoto. 
Você tem um pé aleijado.

A mãe insistiu que o acompanharia. 
Afinal, ela podia andar muito mais depressa do que ele pensava.
Lá se foram.
O menino saltitando e correndo 
e a mãe mancando, seguindo atrás.

De repente, uma carruagem apareceu na estrada.
Majestosa, puxada por lindos cavalos brancos.
Dentro dela, uma dama linda, 
envolta em veludos e sedas,
com plumas brancas nos cabelos escuros.
As joias eram tão brilhantes que pareciam pequenos sóis. 

Ele correu ao lado da carruagem e perguntou à senhora:
- Você é um anjo? 
Ela nem respondeu. 
Resmungou alguma coisa ao cocheiro
que chicoteou os cavalos e a carruagem sumiu na poeira da estrada.
Os olhos e a boca do menino ficaram cheios de poeira. 
Ele esfregou os olhos e tossiu bastante.
Então, chegou sua mãe que limpou toda a poeira, 
com seu avental de algodão azul.
- Ela não era um anjo, não é, mamãe?
- Com certeza, não.
Mas um dia poderá se tornar um, respondeu a mãe.

Mais adiante uma jovem belíssima, 
em um vestido branco, 
encontrou o menino. 
Seus olhos eram estrelas azuis e ele lhe perguntou:
- Você é um anjo? 
Ela ergueu o pequeno em seus braços e falou feliz:
- Uma pessoa me disse ontem à noite que eu era um anjo. 
Enquanto acariciava o menino e o beijava, 
ela viu seu namorado chegando. 
Mais do que depressa, colocou o garoto no chão.
Tudo foi tão rápido que ele não conseguiu se firmar bem nos pés e caiu. 
- Olhe como você sujou meu vestido branco, seu monstrinho! 
- Disse ela, enquanto corria ao encontro do seu amado.

O menino ficou no chão,
chorando, até que chegou sua mãe 
e lhe enxugou as lágrimas com seu avental de algodão azul. 
- Aquela moça, certamente, não era um anjo.

O garoto abraçou o pescoço da mãe e disse estar cansado.
- Você me carrega?
- É claro - disse a mãe
- Foi para isso que eu vim.

Com o precioso fardo nos braços, 
a mãe foi mancando pelo caminho,
cantando a música que ele mais gostava.
Então o menino a abraçou com força e lhe perguntou:
- Mãe, você não é um anjo?

A mãe sorriu e falou mansinho:
- Imagine, nenhum anjo usaria um avental de algodão azul como o meu.

Anjos são todos os que na Terra se tornam guardiões dos seus amores. 
São mães, pais, filhos, irmãos e amigos que renunciam a si próprios, 
à suas vidas em benefício dos que amam.
As mães, sobretudo, 
prosseguem a se doar e velar por seus filhos, 
mesmo além da fronteira da morte,
transformando-se em protetoras daqueles que na Terra ficaram, 
como pedaços de seu próprio coração.