Afinidade é um dos poucos sentimentos que resiste ao tempo e ao depois. A afinidade não é o mais brilhante, mais o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente também. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe, não precisa de códigos verbais para manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixam de estar juntas.
Afinidade é ficar longe, pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras, é receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. Não é sentir a favor nem sentir contra...
Nem é sentir para... nem é sentir por... nem é sentir pelo... Afinidade é sentir com. Sentir com, é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber... É mais calar do que falar ou quando falar, jamais explicar, apenas afirmar. Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto quanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram, foram apenas oportunidades dadas pela vida, em que cada uma das partes seguiu a sua direção.
Com o tempo, e nossa vontade de crescer, tudo vai se encaixando no seu devido lugar...