CHEGUE NA PAZ

12 de jun. de 2012

A Afinidade


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, 
delicado e penetrante dos sentimentos. 
É o mais independente. 
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, 
as distâncias, as impossibilidades. 
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
 o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido. 
Afinidade é não haver tempo mediando a vida. 
É uma vitória do adivinhado sobre o real. 
Do subjetivo para o objetivo. 
Do permanente sobre o passageiro. 
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro. 
Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. 
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece 
depois que as pessoas deixaram de estar juntas. 
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, 
sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade. 
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito
 dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. 
É ficar conversando sem trocar palavras. 
É receber o que vem do outro com aceitação 
anterior ao entendimento. 
Afinidade é sentir com. 
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. 
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. 
Quantos amam e sentem para o ser amado, 
não para eles próprios. 
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. 
É olhar e perceber. 
É mais calar do que falar, ou, quando é falar, 
jamais explicar: apenas afirmar. 
Afinidade é jamais sentir por. 
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. 
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. 
Compreende sem ocupar o lugar do outro. 
Aceita para poder questionar. 
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar. 
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. 
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades 
exercidas quanto das impossibilidade vividas. 
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou
 sem lamentar o tempo de separação. 
Porque tempo e separação nunca existiram. 
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida, 
para que a maturação comum pudesse se dar. 
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais
 a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

(Artur da Távola)