CHEGUE NA PAZ

21 de mar. de 2012

Uma conversa com Drummond

O ser humano é esquisito, às vezes por medo de se doar,
acha que só ele têm problemas sem solução.
Drummond não teve medo,
sentado no banco da praça ele olha o mundo por outro ângulo.

Um viajante do tempo, meio chumbado,
sentou-se ao seu lado e começou a falar:
- Sabe moço, não sei o seu nome e nem quem você é..
só sei que estou com um problema danado
e por ele já perdi até minha mulher.

Gosto muito de uma cachacinha,
depois da terceira dose, não consigo mais contar.

Um dia, chegando em casa depois de me embriagar,
minha mulher queria, que queria saber, com quantas
eu havia ficado, pensando que ela falava da tal cachaça
fui logo dizendo, acho que umas dez eu aguentei.

Barbaridade moço, com a vassoura na mão ela me
empurrou até o portão, e como o serviço eu já tinha perdido
fiquei assim, sem nada no bolso, sem amor no coração e,
catando papelão pra poder comprar um pão.

Vendo que o companheiro tinha ouvido tudo,
mas continuava calado, ele foi finalizando.

Obrigado moço, nem sabe como o senhor me ajudou
ouvindo calado, não palpitando em nada
e ainda me olhando com toda essa bondade...

Vou assumir com o senhor um compromisso...
nunca mais faço isso... e vou agorinha mesmo
me explicar com a minha mulher.

Foi embora acenando para a estátua de Drummond,
que para ele foi um amigão.

Acho que Drummond ficou feliz, mesmo calado,
esculturado, ele ajudou aquele homem a tomar uma decisão
que talvez mudasse a sua vida.

E você, o que faria se alguém precisasse de você?

Ouvia calado, aconselhava, ou sairia de mansinho,
porque problemas, já chegam os seus.

(Silvia Giovatto)