Certo dia, o diabo deu um giro pelo mundo, queria ver como os homens rezavam. Foi rápido o seu passeio de investigação, porque a maioria já se desacostumara a rezar, a relacionar-se com Deus.
E os poucos... que ainda rezavam, faziam-no tão mal que arrancavam bocejos do Pai eterno.
Já regressando para casa, viu um camponês que gesticulava furiosamente, em seu pequeno roçado.
Curioso... intrigado... o demônio escondeu-se atrás de um arbusto. E ficou observando.
O camponês brigava com Deus, aos gritos, fazendo censuras, dizendo injúrias, soltando afrontas.
O demônio esfregava as mãos, de contente.
Súbito, um padre surgiu na estrada, apavorado com a cena do camponês gritando com Deus. Lá veio o sermão:
- Bom dia, meu filho. Que modos são estes? Você não sabe, por acaso, que é pecado insultar a bondade do Criador? Curioso e estranho, esse seu modo de comunicar-se com nosso Pai.
A resposta brotou de imediato, muito diáfana e despojada:
- Claro, padre. Se brigo com Deus, é porque creio Nele. Se O censuro, é porque Lhe quero bem. Se grito, é porque sei que Ele me escuta.
- Deve estar delirando - repetiu consigo mesmo o que passava, enquanto se afastava.
O demônio, por sua vez, ficou muito alarmado e se arrancou, feito um foguete de fogo.
Descobrira um homem que sabia rezar.