CHEGUE NA PAZ

24 de set. de 2011

Uma "Era" consumista

“LIBERDADE, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda...” (Cecília Meireles)

São tempos de crise os nossos, – crise econômica, financeira, política e social. E acima de tudo, ética e moral. Tristes tempos em que uma vida vale tão pouco, perdendo-se por quase nada. Porém, as brisas que anunciam mudanças muitas vezes trazem junto de si, caos, dor e confusão.

A voracidade consumista, a pulsão pela aquisição do novo, a permanente sensação de insaciabilidade, e vidas vazias de sentido infelizmente permeiam a quase totalidade das sociedades modernas. Tempos desleais os nossos, onde testemunhamos a mercantilização de tudo: sentimentos, ideais, metas existenciais e sonhos.

Em obras como “Modernidade Líquida” e “Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria”, Bauman já havia observado como na atual sociedade de
consumo as campanhas publicitárias sucessivas atrelam a busca da felicidade a indicadores de consumo e de riqueza ostentada.

Anúncios publicitários que vendem o delírio de que ser dono de um determinado produto é o coroamento do sucesso individual.

A torrente desumana de publicidade a que somos expostos todos os dias, fomentando o individualismo e o consumismo, em detrimento à solidariedade e cidadania.

“Prazer é mais do que uma sensação. É um objetivo de vida”, nos recorda um anúncio. Em outras palavras, se você não adquirir o produto anunciado, sua vida estará vazia não somente de prazer, mas de um objetivo.

Bauman é enfático ao afirmar: “enquanto não repensarmos a maneira como medimos o
bem-estar, mais problemas são inevitáveis.”

“A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo.”

Em suas entrevistas, Bauman costuma citar um antigo provérbio chinês de mais de
dois mil anos antes do advento da modernidade, que diz: “Quando planejas por um ano,
semeias o grão. Quando planejas por uma década, plantas árvores. Quando planejas
por uma vida inteira, formas e educas as pessoas.”

As graves crises éticas e morais, sociais e ambientais que solapam a humanidade por
todos os lados anunciam a necessidade de superarmos a modernidade, e trabalharmos para o advento daquilo definido por pós-modernidade.

E o que significa ‘educar’ para os tempos de pós-modernidade?

O urgente e vital desafio de educar as futuras gerações de modo que possam cultivar uma nova visão, uma atenção expandida. Pais e avós, professores e educadores, e todos aqueles amantes da vida devemos abraçar a causa de como garantir às novas gerações uma educação plena. Uma educação capaz de estimular a reflexão e a crítica,
de modo que saibam cultivar a ética, a transcendência, a cooperação, a solidariedade e o respeito à vida. Uma educação plena, que abarque o desenvolvimento físico e intelectual, emocional, espiritual e social das crianças pequenas que estão iniciando a sua caminhada pela jornada terrena.

Somente teremos ordem, progresso e beleza... no dia em que a Educação e a Infância forem consideradas uma prioridade essencial.

O educador recifense Paulo Freire, considerado um dos pensadores mais notáveis
na história da pedagogia mundial, afirma:

“Eu nunca poderia pensar em educação sem amor. É por isso que eu me considero um educador, acima de tudo porque eu sinto amor.”

“Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”

“Pra mim, o ‘eu sou, logo existo’ há muito tempo sumiu. 'Nós somos, logo existimos’,
esta é que é a formulação.

Nós existimos, fazemos coisas, por isso somos, entende?...”

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

“Mudar é difícil mas é possível.” (Paulo Freire) (1921/1997)