Ruth chegou para sua sessão de hidromassagem. No vestiário, enquanto se preparava, ouviu uma voz que vinha do outro lado do armário. Era uma voz forte, animada, cheia de vida. Exatamente como a manhã que começava.
A voz firme dizia:
- Dolores, gostei muito do livro que você pegou para mim, na semana passada. Sei que a biblioteca fica fora do seu caminho. Não consegui parar de ler.
Era impossível deixar de ouvir a voz que, após um breve silêncio, continuou: Você já viu um dia tão esplêndido como este? Vi um par de cotovias enquanto caminhava esta manhã. Isso nos traz alegria de viver, não é mesmo?
Ruth começou a pensar quem seria a dona daquela voz. Parecia ser portadora de um certo requinte. Para ser tão agradecida àquela hora da manhã, devia ser uma mulher muito rica.
Ruth pensou que ela também se sentiria feliz se não tivesse nada mais para fazer na vida do que ler, nadar e passear. Se pudesse se erguer pela manhã e fazer sua caminhada sossegada, sem ter que ficar de olho no relógio apontando o horário do expediente. Ela também ficaria feliz se tivesse uma casa no campo, onde pudesse ir nos finais de semana ou a qualquer dia da semana, porque não tivesse nada mais a fazer do que se divertir e descansar. Tomar uma xícara de chá ao final do dia, convidar amigas para um lanche. Quem não poderia ser feliz assim?
Então, contornou o armário e ficou frente a frente com a dona daquela voz alegre e jovem. Ela estava arrumando seus apetrechos. Usava um uniforme amarelo e devia ter uns 50 anos. Ruth conhecia aquele uniforme. Sempre estava acompanhado de esfregões, vassouras, espanadores de pó e baldes.
A dona da voz era uma empregada do local. Ela olhou para Ruth, sorriu, apanhou sua sacola de plástico e caminhou em direção à porta.
Voltou-se e disse, alegre:
- Tenha um glorioso dia!
Ruth foi para a piscina. Enquanto afundava o corpo na espuma, pôde ouvir dois homens que conversavam na piscina ao lado.
Um deles trazia uma voz cansada e triste. Falava das dores nos joelhos, das noites sem dormir e dias repletos de mal-estares.
Tudo estava ruim. A água estava quente demais, os jatos d'água não eram suficientemente fortes para suas juntas endurecidas, os médicos tinham demorado muito para diagnosticar seu mal. Parecia um homem velho, mas não devia ter mais de 50 anos. Com a mão enfeitada por um anel de brilhantes, ele retirou a espuma do rosto.
Analisando uma e outra situação, o uniforme amarelo e o anel de brilhantes, Ruth ficou a pensar.
Naquela manhã, ela vira contentamento e descontentamento. E aprendeu que a alegria de viver é apanágio de quem olha a vida com olhos de ver.
* * *
A cada dia, Deus prepara um cenário maravilhoso para todos os Seus filhos.
O que precisamos ter somente é olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Porque para viver com alegria só há um segredo: viver em plenitude, usufruindo cada minuto, cada paisagem, cada acontecimento como único, especial.
Viver com alegria é, enfim, uma decisão pessoal.
Redação do Momento Espírita