Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspende
A cortina, soabre-te! Preciso
O íris trêmulo ver que o sonho acende
Em seu sereno virginal sorriso.
Dá-me uma fresta só do paraíso
Vedado, se o ser nele inteiro ofende
E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso
Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende.
E, fechando mais, zelosa e firme
Respondia a janela: Tente, ousado!
Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me!
E esta que dorme, sol, que não diria
Ao ver-te o olhar por trás do cortinado
E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!
(Sonetos e poemas, 1886)