CHEGUE NA PAZ

12 de dez. de 2010

Visitas indesejáveis

Certo dia, um casal ao chegar do trabalho, encontrou algumas pessoas dentro de sua casa. Achando que eram ladrões, ficaram assustados. Mas um homem forte e saudável com corpo de halterofilista disse:
- Calma pessoal, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.
- Mas quem são vocês? Pergunta a mulher.
- Eu sou a PREGUIÇA responde o homem másculo. Estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente da vida de vocês.
- Como você pode ser a preguiça se tem um corpo de atleta que vive malhando e praticando esportes? Indagou a mulher.
- A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos. Com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.
Uma mulher curvada, com a pele muito enrugada que mais parecia uma bruxa disse:
- Eu meus filhos, sou a LUXÚRIA.
- Não é possível! Diz o homem. Você não pode atrair ninguém com esta feiúra.
- Não há feiúra para a luxúria, filhos. Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens. Sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos até a morte. Sou astuta, e posso me disfarçar na mais bela mulher ou homem que você já viu.
Um mal cheiroso homem, vestindo uns maltrapilhos de roupas que mais parecia um mendigo disse:
- Eu sou a COBIÇA. Por mim muitos já mataram. Por mim muitos já abandonaram famílias e pátria. Sou tão antigo quanto a luxúria, mas eu não dependo dela para existir. Tenho essa aparência de mendigo porque por mais bem vestido que me apresente, por mais rico que pareça, com jóias, dinheiro e carros luxuosos, ainda assim, me verás desta forma. Porque a cobiça está tanto dentro do pobre quanto do rico.
- E eu sou a GULA! Disse uma lindíssima mulher, com o corpo escultural e cintura finíssima, seus contornos eram perfeitos, e tudo no corpo dela tinha harmonia de formas e movimentos.
Assustaram-se os donos da casa, e a mulher disse:
- Sempre imaginei que a gula fosse gorda!
- Isso é o que vocês pensam. Responde ela. Sou bela e atraente, porque se assim não fosse, seria muito fácil livrarem-se de mim. Minha natureza é delicada, normalmente sou discreta. Quem tem a mim não se apercebe. Mostro-me sempre disposta a ajudar àqueles que querem fazer regimes, mas na verdade faço tudo ir de maneira sutil. Destruo o prazer de viver e destruo a beleza do corpo. Também por mim muitas famílias destruíram-se em busca da luxúria.
Sentado em uma cadeira, num canto da casa, um senhor também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimento suave disse:
- Eu sou a IRA! Alguns me conhecem como cólera. Tenho muitos milênios também. Não sou homem nem mulher, assim como meus companheiros que estão aqui.
- Ira? Parece mais um vovô que todos gostaríamos de ter, diz a dona da casa.
- E a grande maioria me tem, responde o vovô. Mato com crueldade. Provoco brigas horríveis que destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim. Posso estar em qualquer lugar, e penetrar nas mais protegidas casas. Pareço calmo e sereno para mostrar-lhes que a ira pode estar aparentemente mansa. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas, sem me manifestar, provocando úlceras, cânceres, e as mais temíveis doenças.
- Eu sou a INVEJA! Faço parte da história do homem desde a sua aparição. Diz uma jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de fino pano assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.
- Como inveja se és rica e bonita e parece ter tudo o que deseja? Disse a mulher da casa.
- Há os que são ricos; os que são poderosos; os que são famosos; e os que não são nada disso. Mas eu estou entre todos. A inveja surge pelo que não se tem, e o que não se tem é a felicidade. Pois felicidade depende de amor, e isso é o que mais carecem na humanidade. Por causa de mim muita destruição já houve, mortes e sofrimento. Onde eu estou, está também a tristeza.
Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava cerca de 5 a 6 anos, brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, características das crianças. Sua face de delicados traços mostrava a plenitude da juventude. Olhos vívidos e enigmáticos parecia estar alheio aos acontecimentos. Quando foi indagado pelo dono da casa:
- E você garoto? O que faz junto a esses que parecem ser a personificação do mal?
- O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:
- Eu sou o ORGULHO!
- Orgulho? Mas você é apenas uma criança, tão inocente quanto todas as outras.
O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assusta o casal, e então ele disse:
- O orgulho é como uma criança mesmo, mostra-se inocente e inofensivo. Mas não se enganem, sou tão destrutivo quanto todos aqui. Quer brincar comigo?
A preguiça interrompe a conversa e diz:
- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente de suas vidas. Queremos uma resposta.
O homem da casa responde:
- Por favor, dêem dez minutos para que possamos pensar.
O casal se dirige para seu quarto, e lá fazem várias considerações. Dez minutos depois retornam.
- Então? Pergunta a gula.
Ante expectativa geral respondem:
- Queremos que o orgulho saia de nossas vidas.
O garoto olha com um olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Porém, respeitando a decisão, dirige-se para a saída. Os outros, em silêncio, iam acompanhando o garoto, quando o homem da casa pergunta:
- Hei! Vocês vão embora também?
O menino, agora com ar severo e com a voz forte de um orador experiente, diz:
- Escolheram que o orgulho saísse de suas vidas, e fizeram a melhor escolha... Pois onde não há orgulho, não há preguiça, pois os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver, não percebendo que na verdade vegetam. Onde não há orgulho, não há luxúria, pois os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e julgam-se merecedores de possuir os corpos de tantos quantos lhes convir, não percebendo que na verdade são objetos do instinto. Onde não há orgulho não há cobiça, pois os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro. Onde não há orgulho não há gula, pois os gulosos se orgulham de suas condições, e jamais admitem que o são. Arrumam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetes dos desejos. Onde não há orgulho não há ira, pois os irosos se orgulham de não serem passíveis e jamais abaixam a cabeça diante de qualquer situação. São incapazes de permitir que a vida lhes proporcione lições de aprendizado, e se revoltam com facilidade com aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Onde não há orgulho não há inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio, seja ele qual for. Precisam constantemente superar os demais nas conquistas. Não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança e da falta de amor à vida. Adeus!
Saíram todos sem olhar para trás. E ao baterem a porta, um fulminante raio de luz invadiu o recinto.

Compolidado de artigo de João Batista Armani