Não digas, coração, que Deus não tem
Necessidade do teu abraço amigo
Quando Deus ama e anda contigo
Para a glória do bem!...
Contempla, em torno, a imensa caravana
De que vais, lado a lado
E o caminho empedrado
Em névoa espessa da tristeza humana...
Deus aguarda o alimento
Que ainda hoje te sobre
Para atender ao prato humilde e pobre
Dos irmãos em penúria e sofrimento.
Deus espera de ti, ainda agora talvez
A roupa que largaste em desuso ou fastio
Para vestir quem sofre, a tiritar de frio
Entre angústia e nudez...
Deus conta receber-te a dádiva sem nome
Que quase nada ou pouco expresse embora
Para dar pão e leite à orfandade que chora
E esmorece de fome...
Deus te pede a bondade oculta e santa
A suportar, com Ele, as lutas do caminho
Injusta, lodo, fel, vinagre e espinho
Para que o bem de todos se garanta.
Deus espera por ti, para sanar o caos
Provocado onde pises
Pelos irmãos rebeldes e infelizes
Que chamamos por maus.
Deus te reclama a voz generosa e serena
Com que fales de paz, tolerância e perdão
A fim de remover a escuridão
Da cólera em que o mundo se envenena...
Seja agora ou depois, seja aqui, seja ali
Onde enxergues sinais da dor alheia
Onde a esperança morre e onde a fé bruxuleia
Deus precisa de ti!...
Por isso, quando o bem por ti se aperfeiçoe
Embora o mal te fira, espanque, estrague
Diz o irmão a que apóias: “Deus te pague!
Deus te ajude e abençoe!...”
Maria Dolores