CHEGUE NA PAZ

8 de dez. de 2010

Deixe ir...

"Despedir-se de algo que não faz mais sentido e, abrir-se para os desafios e as oportunidades de um novo ciclo, é parte natural da vida." Legrand

O amor é algo que se constrói juntos, ambos investindo e participando. Não é uma tarefa de apenas um, sozinho. Se não houver empenho do parceiro, o bom senso aconselha dizer adeus. É assim que se harmoniza a razão com a emoção, permitindo sair da relação e aterrissar com boas lembranças e não com amargura e arrependimento. Tudo isto deve ser tratado com disciplina que é a maior e melhor manifestação da auto-estima. Se você se gosta, vai usar a disciplina para trabalhar por seu ben-estar, por sua saúde e por sua felicidade. Uma paixão equivocada é como um vício. É preciso abandoná-la da mesma forma como se cura um vício: com esforço e disciplina estimulados pela auto-estima. Significa querer fazer o bem a si mesmo ainda que custe todo o sacrifício que for necessário. Deixar ir embora faz parte da existência, tanto quanto começar um ciclo novo. Só que, em diferentes graus, todo ser humano tem dificuldade de colocar um ponto final. Por isso, teima em insistir numa situação conhecida, embora já insatisfatória, e não consegue assumir que aquela etapa esgotou-se e que deve finalizá-la. É preciso coragem para dizer adeus. Um adeus verdadeiro, do fundo da alma e com consciência. Nem sempre o adeus é consciente, fruto de um período de maturação. Pode ser o desejo de escapar de um contexto desconfortável. Isso acontece quando a intimidade começa a se estabelecer num relacionamento amoroso e uma das parte acha que não suporta a situação. Em ambos os casos, a pessoa decide, às pressas, pôr um ponto final na experiência a fim de fugir dela e evitar o confronto com seus fantasmas. Por isso, é comum que a pessoa se pegue, tempos mais tarde, chorando de saudade ou questionando se aquela opção foi a melhor. O sofrimento é uma das grandes complicações das despedidas. Como admitir que a vida, planejada anteriormente, não faz mais sentido? Por isso, uma das razões para o sofrimento causado pelo adeus é um velho conhecido: o apego. Atribuímos nossos próprios significados às pessoas e às situações que nos cercam e isso nos liga a elas de tal forma que não conseguimos nos desapegar. O problema é que o ser humano, não se contenta apenas em vivenciar a relação. Ele quer possuir, reter, conservar, para que se mantenha "para sempre". Segundo uma metáfora budista, segure firme um objeto em suas mãos, alongue os braços à sua frente com a palma para baixo e relaxe seus dedos. Você perderá o que carrega. Contudo, se mantiver a palma da mão para cima, mesmo afrouxando os dedos, o objeto ainda estará ali. O segredo então, é conservar o que se tem com desapego ou, então, soltar de vez o que não tem mais valor. O medo da perda dificulta a tomada de decisão. Porém, junto com toda renúncia há sempre um ganho e um aprendizado, que aos poucos serão conhecidos. Todo adeus traz, consigo, um "sim" para a vida dito imediatamente antes. Como a princípio esse "sim" nem sempre é evidente, vem a angústia. Há o choque inicial, o período de negação ou dúvida e o momento em que sentimentos e sensações misturados, como insegurança, solidão, baixa auto-estima e outros vêm à tona de forma torrencial. Depois, o instante em que o indivíduo se dá conta de que o fato é real e, por fim, a aceitação. Permitir-se vivenciar todos os estágios é fundamental. O adeus acontece desde o instante em que se resolve mudar. Até o momento da ruptura, elabora-se o que se ganha e o que se perde. De todas as despedidas, a mais delicada é a da separação amorosa. Mesmo que seja um adeus fruto de consenso, a aceitação da própria "morte" na consciência do outro é muito dolorida. Reconhecer que você não fará parte mais das escolhas e das alegrias do ex-parceiro, que não partilhará mais, é muito difícil. Contudo, é importante ter o sentimento de que, a despedida de um amor, não significa uma desestruturação, mas sim, um momento para reorganização.

do livro: Algodão entre cristais - Pág 107 - Legrand