16 de mar. de 2024


Carta de uma idosa trancada num lar

Tenho 82 anos, 4 filhos, 11 netos, 2 bisnetos e um quarto de 12 metros quadrados.

Já não tenho mais a minha casa, nem as minhas coisas amadas, mas tenho quem me arruma o meu quarto, quem me faça de comer, quem me faça a cama, quem me controla a pressão e me pesa.

Não tenho mais as risadas dos meus netos, não posso mais vê-los crescer, abraçar e brigar; alguns deles visitam-me a cada 15 dias; outros a cada três ou quatro meses; outros, nunca.

Eu não faço mais nuggets ou ovos recheados e nem rolos de carne moída, nem ponto cruz. 
Ainda tenho passatempos para fazer e o sudoku que me entretém um pouco.

Não sei quanto tempo me resta, mas preciso de me acostumar com esta solidão; faço terapia ocupacional e ajudo no que posso quem está pior do que eu, embora não queira me apegar muito: pois eles desaparecem frequentemente.

Dizem que a vida é cada vez mais longa. Por quê?

Quando estou sozinha, posso olhar para as fotos da minha família e para algumas memórias que trouxe de casa. E isso é tudo.

Espero que as próximas gerações entendam que a família se constrói para ter um amanhã (com os filhos) e que retribuam na mesma medida aos pais com o mesmo tempo que eles nos presentearam para nos educar e criar.