26 de jan. de 2024



Aos 15 anos, eu achava que o amor era seda finíssima, que cobria a visão dos amantes com um tom rosado.

Aos 20, imaginei que era cetim. Brilhante, ruidoso e escorregadio. Cama para a perdição dos sentidos.

Aos 25, me abriu a temporada da primavera. O amor virou pano de chita. Flores e fecundação. Reprodução colorida.

Aos 30, desejei fazer uma colcha de retalhos, juntando das pessoas só os pedaços que eu gostava.

Aos 35, minha alma sentiu frio e eu desejava o amor como um xale jogado nos ombros.

Aos 40, comecei a admirar os panos remendados, refeitos pela esperança, cerzidos com persistência.

Já não desejo a bela toalha de banho engomada, que não seca o corpo. Ou o edredom novo que não cola na pele.

Entendi que amor é ninho. Trama reforçada para suportar os atritos. Tecido grosso que se costura nas roupas de criança na altura dos joelhos e dos cotovelos. Confiança e proteção.

Fico imaginando o que irei aprender sobre o amor nos próximos anos. Talvez, tendo compreendido um pouco sobre o seu feitio, eu possa agora me dedicar aos delicados bordados à mão.

(Érica Toledo)