13 de jan. de 2023



"Da infância ficaram os quintais. A magia dos quintais. A sombra das árvores, o vento e sua dança de folhas. O balanço! As frutas colhidas no pé. O pé descalço molhado de rego d'água. Ficou a casa, as paredes e as vozes nelas guardadas, o piso cantarolando passos... denunciando presenças. Os cheiros da cozinha: o prato servido de amores (oh! fome perversa que hoje sinto!). Sons de risadas, de músicas cantaroladas na lida que tecia a vida. A certeza da benção de todo dia; o beijo nas mãos, o respeito posto à mesa já no café da manhã. A alegria de ser. De estar. De viver distraidamente de inteirezas e plenitudes. O balanço pendurado na árvore escolhida com precisão e carinho. Ninho era o nome de toda essa doçura? O balanço cumpria seu destino: ia e voltava! Voava! Ah, eu não sabia que o balanço do tempo é outro. Ele vai, ele voa, mas, na volta, não volta, não volta, não volta mais!"

(Miryan Lucy)