22 de mai. de 2022



Repara nos meus cabelos: ainda estão encharcados.

Atravessei rios e mares.

Há um tremor em meu corpo.

Venho de tempestades.

Mas rasguei as cortinas do tempo pra deixar a luz entrar, espanei o pó dos cantos e enfeitei meu lugar.

Que eu guarde as alegrias que tenho, como tesouros achados na areia, quando a maré recua e a praia se estende.

Que eu saiba distribuir o amor que recebi nos dias mais remotos, na noite em que meu teto ruiu, nos invernos que pareciam não ter fim, nas casas que me abrigaram até o céu clarear.

Que eu não me esqueça das palavras que me aninharam, do carinho das horas e dos olhos que me enxergaram muito além do que eu sou.

Ainda que os dias estejam difíceis, eu sei que nunca estou só, nunca estamos sós.

Existe uma conexão de bons sentimentos, do desejo pelo bem do outro, do abraço verdadeiro, da emoção compartilhada, capazes de tudo transformar.

E a gente vai por aí, semeando a boa semente que recebeu, floreando os canteiros, perfumando as esquinas.

(Eunice Ramos)