27 de fev. de 2022



“Sou feita de histórias que não deram certo, de frases sem ponto final.

Sou feita de uma porção de livros lidos pela metade.

Sou feita de humanidade. Carne, ossos e humanidade.

Todas as minhas histórias pela metade, ou quase todas, me deixaram completamente inteira. Inteira de mim, de tudo que não desejo, de tudo que não tolero mais.

Sou feita de sim. Mas, graças ao tempo, sou feita de não, mais ainda deles. Não ao que me fere, ao que me faz mal, ao que não me alimenta.

Sou feita de santos, budas e Iemanjás. Também sou feita de muita complexidade. Sou sonhos, sou desilusão. Não sou feita de basílicas, capelas, igrejas, sés ou conventos, mas sou todinha retalhada na fé.

Fé é o que me movimenta, é o que me levanta todos os dias, é o que seca minha alma depois do temporal. Fé é meu prato preferido. Fé é a roupa que mais me cai bem.

Sou feita de anseios, de preocupação. Sou feita de luz e escuridão.

Sou feita de beijos, pele, conexão.

Sou feita de amor, tatuagem e música clássica.

Sou feita de detalhes que não me recordo (e de uma péssima memória).

Sou feita de imensa facilidade em desculpar, mas de uma capacidade ainda maior em esquecer quem me machucou.

Sou feita de amores.

Sou feita do que já conquistei, mas, mais ainda de tudo o que perdi na vida.

Foi o que perdi que me manteve alerta. Foi o que aprendi na dor que me fez forte e foi o que entendi do amor que me fez humana.

Sou feita de cicatriz e gratidão.”

(Ju Farias)