24 de fev. de 2022



“Sempre gostei de corações. Encantam-me. São bonitos e perfeitinhos. São delicados e poderosos. Batem no ritmo certo. Aparecem no momento certo. Recordam as coisas certas.

Talvez seja por isso que sempre que tropeço num pedaço de mundo em forma de coração rebente de entusiasmo. Confesso que dou por mim a procurá-los. Procuro um pouco por toda a parte, no chão, nas nuvens, nas linhas tortas de objetos, no bater das ondas e na sua espuma que abraça a areia.

Os corações têm qualquer coisa de especial, são eles que me ligam ao que me mantém viva, e desta vez não é o amor. Os corações recordam-me que sobrevivemos entre sonhos e forças no acreditar.

São eles, os corações, que na sua forma perfeita, me interrompem o caminho, a linha de pensamento e a vida atarefada, para me lembrar da essência, do que é realmente importante. Para me avisar que é preciso acreditar.

Acreditar que o mundo será melhor, em algum momento, acreditar que a tempestade passa, que o amor cura tudo, o amor sempre curará tudo.

Acreditar que quando dás o melhor de ti, quando te esforças para ser a tua melhor versão, para ti e para o outro, o mundo alinha-se, o relógio acerta-se e a magia acontece.

Os corações servem para isto. Lembrar. Lembrar quem esteve, quem foi, quem está e quem é. Para me lembrar de tantos nomes e vidas que se cruzaram com a minha, para me dizer que outros virão, que novas vidas surgirão.

Para lembrar que o tempo não pára, que a força não termina, que a coragem não me faltará e que o medo nunca me vencerá.

Para me lembrar que em alguma parte do mundo tu lês este texto, e só por isso, tu e eu, num breve segundo, fomos um coração só.”

(Filipa Canto Araújo)