27 de fev. de 2022



E se mais tarde, quando o tempo romper e meus olhos acinzentarem, me perguntarem o que eu vi da vida, assim direi: eu vi dias de chuva e de sol, e estive em paz em todos eles, porque carreguei comigo a serenidade colhida nas horas.

Eu senti tristeza, ao ver amigos partindo, mas meu coração se renovou com a chegada de tantos outros.

Eu vi muito sol se levantando, a paisagem se modificando no ritmo das estações, e eu fui me transformando junto com ela, me quebrando e me refazendo, até conseguir me achar.

Eu vi crianças brincando, como se a vida fosse uma eterna ciranda, onde a gente aprende girando, sorrindo e, muitas vezes, chorando, que é mais forte quem tem uma mão pra segurar.

E de tantas coisas que eu vi, carreguei comigo a alegria dos lugares por onde andei e a vagarosa saudade que levei.

Tantos risos bobos que fizeram minha alma dançar, o café fresco, acompanhante fiel de uma conversa boa (dessas que varam a tarde e a gente nem percebe), o colo da mãe, ninho para o qual a gente sempre quer voltar, o abraço que traduz uma vida, sem nada dizer, os dias de inverno, a chuva fazendo canção, os varais, os quintais, o silêncio da noite e a sinfonia das manhãs...

E o que eu não vi, também fez sentido pra mim, porque o que faz real diferença na vida, são as pequenices, as miudezas, as coisas bobas que passam desapercebidas, mas vão transformando o lugar, floreando o chão pra gente passar...

(Eunice Ramos)