1 de out. de 2021


Já vivi dias ensolarados e noites tempestuosas.

Já disse o que não devia, ouvi o que não queria e, precisei continuar.

Já chorei um mar inteiro por coisas tão miúdas e, já me fiz de forte quando o vento era forte demais.

Já fui embora muitas vezes (de mim, dos meus anseios e minhas intensidades).

Já bati a porta, jurei não olhar para trás, mas fui traída pelo coração.

Já arrastei vida afora coisas que me incomodavam e, já me desfiz num segundo do que me arranhou a pele.

Já amei demais, me entreguei demais, acreditei demais e, me amei de menos, mas, romântica incorrigível, ainda envio bilhete, escrevo cartas, guardo cheiros e coleciono pequenos detalhes.

Já mudei a rota, o rumo, tentando encontrar meu norte, quando descobri que o mundo acontecia aqui, dentro de mim, e eu precisava me entender comigo para sentir vontade de ficar e querer me cuidar.

Já me abandonei muitas vezes, me senti incapaz, me senti infeliz, mas descortinei minha janela e, deixei a luz entrar, espanei o pó dos móveis e, reinventei meu lugar.

E hoje eu estou aqui...

Imperfeita sim, incompleta sim, mas cheia das coisas miúdas que fui guardando estrada afora.

Ora sou triste como passarinho na gaiola, ora sou feliz como criança se lambuzando de sonhos.

Sou calmaria e tempestade.

Serenidade e desassossego.

A nostalgia do cais e as manhãs de verão.

Eu sou o inteiro de todos os pedaços que perdi.

(Eunice Ramos)