Minha Pátria
Morava inicialmente dentro de uma mulher.
Depois urrei e passei a residir num berço, feito casa.
Acomodaram-me numa cidade, para viver num país.
Deram-me a Lusitana, um nome, identidade.
Mas tomei água no deserto do Marrocos.
Subi a pirâmide de Ramsés.
Apanhei uma rosa nos jardins de Roma.
Embebi-me de rútilas em Coimbra.
Toquei um sino na Filadélfia.
Andei com elegantes Mursis na Etiópia.
Aprendi bienvenue em Paris.
Desci a Cordilheira nos Andes.
Apaixonei-me por Granada.
Trouxe luz das estrelas de Angola.
Fui até a fronteira do Alasca.
Quis falar Esperanto no Mar Morto.
Faltou-me dançar um tango em Xangai,
voltar a Isla Negra para rever o mar,
ouvir uma milonga quando a noite cai,
olhar de novo o Cerrado se entregando ao sol.
Descobri-me Rio que não cessa.
Meu caminhar é sempre se indo.
Avistando templos ou morando em Ocas,
minha pátria são as gentes que se sonham no mundo.
(Carlos Daniel Dojja)