10 de abr. de 2020


Não há vacina para vosso egoísmo.
Por Bruno Bocchini

Uma pandemia não revela nada de novo. Ela amplia tudo aquilo que é velho, de novo. Expõe uma sociedade já doente (corroída pela desigualdade e tacanha). Dividida entre aqueles que querem o fim para justificar os meios, e tantos outros que buscam meios para justificar o fim.

Fatalmente, nos faz pagar caro. Priva um abraço a quem amamos, aquele beijo no rosto da avó em meio ao cheiro do bolo de fubá, a sessão do filme babaca como desculpa para dividir a pipoca, ou uma peça de teatro que só você e seu melhor amigo vão ver e aplaudir. Lança-nos à solidão. Formula o eco. Preenche com vazio cada fissura aberta pela memória.

A verdade, visível e com o mais intenso sabor amargo, é que ninguém está preparado para viver. São tantas descobertas que, em meio ao mar de dúvidas, naufragamos com nossas certezas. E não há como cobrar pensamento coletivo para quem caminha singular.

As doenças passam. Retornam. E cada vez levam de nós o pouco que sobrou. Na saúde e na doença somos eternos sujeitos sem verbos.