31 de dez. de 2018



A posse.

Não irei à sua posse, 
Porque sou negro cotista, 
Sou filho da diarista, 
Daquela cuja empregada,
que a carteira assinada 
Você queria negar.

Não irei à sua posse, 
Porque sou homoafetivo, 
Filho do índio nativo, 
Dono desse lugar, 
Cujas terras demarcadas
Você reluta em tomar.

Não irei à sua posse, 
Porque sou mulher educada, 
Não nasci de fraquejada, 
E luto por igualdade, 
E isso me engrandece. 
Mas respeito e liberdade
não é coisa pra covarde, 
Isso você desconhece.

Não irei à sua posse, 
Porque sou trabalhador, 
Se sem direitos estou
É porque você contribuiu
Pra reforma trabalhista. 
Assassinou o sindicato, 
E o povo pagará o pato
Do modelo escravagista.

Não irei à sua posse, 
Porque eu sou um retirante, 
Filho de um imigrante, 
Imitante de Jesus, 
Que também por um instante, 
foi um simples imigrante, 
Pra cumprir com sua cruz.

Não irei à sua posse, 
Porque sou deficiente, 
Sou humano, sou valente, 
Mas tenho vergonha na cara. 
Minha cadeira de rodas
Segue outra direção:
A do respeito, inclusão, 
A direção bem contrária, 
Dessa farsa anunciada.

Não irei a sua posse, 
Porque eu sou a poesia, 
Sou poeta sou folia, 
Sou a cantiga de rodas. 
Sou quilombo, sou favela, 
Sou a pipa da janela, 
Voando a favor do vento, 
Caindo na plantação 
De uma reforma agrária. 
Sou a raça libertária, 
Sou alegria perene, 
Por isso não me condene! 
Sua graça é temporária.