30 de set. de 2018



Que a força do medo que tenho,
não me impeça de ver o que anseio.


Que a morte de tudo em que acredito,
não me tape os ouvidos e a boca,
porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe,
seja linda ainda que tristeza.

Que a mulher que amo, seja pra 
sempre  amada, mesmo que distante,
porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não 
sejam
ouvidas como prece e nem repetidas
com fervor, apenas respeitadas, como 
a única coisa que resta a um homem
inundado de sentimentos, porque 
metade de mim é o que ouço, mas a 
outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora,
se transforme na calma e na paz que 
eu 
mereço, e que essa tensão que me corrói 
por dentro, seja um dia recompensada,
porque metade de mim é o que penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que 
o convívio comigo mesmo se torne ao 
menos suportável, que o espelho reflita 
em meu rosto num doce sorriso que eu 
me lembro ter dado na infância, porque 
metade de mim é a lembrança do que 
fui, a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma 
simples alegria, pra me fazer aquietar o 
espírito, e que o teu silêncio me fale cada
vez mais, porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba, e que ninguém
a tente complicar, porque é preciso 
simplicidade pra fazê-la florescer,
porque metade de mim é plateia,
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada,
porque metade de mim é amor,
e a outra metade também.



(Oswaldo Montenegro)