4 de jan. de 2018


Nós, os humanos, somos cavaleiros errantes. Errante não significa que não tenhamos um plano maior. Somos corajosos. E vamos sempre adiante, para longe. Somos migrantes.

Multidões já habitaram esses lugares, um turbilhão de gente andou animadamente carregando consigo na mochila o Tempo. Pessoas que quando quietinhas no cantinho de terra verde conquistado, lembram o que tinham esquecido, as lembranças do que foi superado. 
Multidões soltas como cartas lançadas em barquinhos de papel pelos córregos da memória, ziguezagueiam pela vastidão do tempo.

Nós humanos seguimos sempre para o Adiante, para longe. Custodiamos e levamos conosco o tempo esquecido. Para não esquecer. Montamos os barquinhos e seguimos pelo oceano. Barquinhos seguem as ondas. As ondas são como as mãos das mães que com seus empurrões de encorajamento nos trazem de volta às margens, nos colocam com os pés firmes na areia. 

Durante a longa caminhada do migrante, um oceano de conversas engraçadas, e dramáticas, evaporam. E com isso também as pessoas que deixamos nesta caminhada.

Cada onda traz nova onda. É tão rápido. Não dá para desviar os olhos do Adiante. A vista aguçada e atenta para o que logo vem, se torna um olhar necessário. Instantâneo. Como células lutando para sobreviver e conquistar mais um segundo. Só mais um, e só mais um.
 

É a vastidão, ondas e tantas histórias de pessoas errantes voando pelos ventos. Feitas para esquecer mesmo. E abrir novo espaço. Seguir para onde os pés apontam. Adiante, para longe.

Aquela caverna devia ser fria mesmo, 
e a escuridão amedrontadora. Foi em uma noite de lua cheia, após uma interminável tempestade, que os migrantes se foram. Os primeiros caminhantes não tinham nada a perder. Foram em busca das ondas. E abandonaram o tempo. A vastidão é algo difícil de conter em um abraço, é mais fácil começar pelas ondas. 

Peço perdão ao tempo, se esquecemos daqueles que perdemos no caminho, não foi por desamor. Esquecer é necessário, é um instante, para que venha uma nova chegada. Quando chegamos no novo porto, já é uma vitória, e os barquinhos de papel nos quais viajamos se desmancham na areia. Não tem retorno. Vastidão, é difícil conter. O tempo é grande demais para carregar consigo. E é duro demais para dividir.

Um migrante carrega consigo no coração, pela eternidade, todos aqueles anjos que um dia abraçou, acarinhou, amou. 
Nunca esquece para sempre. Só esquece por um instante. O instante é aliado necessário para continuar a ir adiante, para longe.