29 de out. de 2016


Minha sequidão. 

Nem sempre acordo borboleta. Hoje estou me sentindo como a lagarta, feia e sem nenhuma vontade de ir ao 
casulo para ser transformada. Me percebo seca por dentro. Gosto deste sentir. Não porque quero ser masoquista e sim por ver que o estado de sequidão me habilita refletir. Pessoas em minha volta insistem em lembrar-me que tenho todas as respostas, afinal cheguei a idade madura, aliás estou quase "caindo do pé", mas nestas horas adoro saber que não as tenho, pelo contrário estou sim é cheia de perguntas e isto me fascina, pois me mantem viva, independentemente de me sentir hoje como a lagarta. 

É... a idade cronológica. Todos cobram minhas asas treinadas, mal sabem que sou inconstante e posso sim voltar ao meu estado original. Mas já que a cronologia está ai para, ora me alegrar com alguma sabedora, ora me assustar ao lembrar-me da minha finitude, tento olhar para o lado cheio do copo e ver em minha sabedoria que em minha sequidão existe em mim um imenso desejo de ficar descalça e descabelada. Não, eu não vou usar nenhum creminho, não quero a maquiagem mais bacana do mercado, fujo do senso estético, quero simplesmente ser eu. 

E a sabedoria da maturidade me permite ser assim. Digo, dane-se para os que ao meu redor insistindo no cumprimento de tarefas, posturas sensacionais, acertos incríveis e aparência impecável. Infelizmente não vai rolar. Ahhh... de vez em quando me dou o direito ao erro. Lamento se alguns não me alcançam. 

Encontrei um pedaço de sol, sabe o que fiz? Lagarteei, me esparramei e sonhei. Que delícia. Como é bom saber tenho ainda tanto a sonhar, crescer, viver, pois somente assim vivendo minha inconstância seja como lagarta, ou borboleta, serei sempre eu comigo mesma. Então para completar, quero terminar o dia exatamente assim, seca, meio "mala sem alça", mas convicta que amanhã poderei ser novamente a borboleta, as cores voltarão, o deserto passará, e aí quem sabe terei algumas respostas. Não darei nenhuma garantia. Gosto do imponderável. 

Anseio passar o resto da minha vida envolvida em muitas perguntas que alimentarão minha alma, me darão frio na barriga e me encherão de vontade, sim uma vontade quase adolescente de mudar o mundo. 

E que assim seja, aos 50, 60 ou 70. Amém.

(A.D)