24 de set. de 2015



Refugiados

Há mais de 12 mil anos, vieram levas de povos asiáticos pelo estreito de Bering. Espalharam-se pelas Américas. Os primeiros do nosso litoral, os povos sambaqui, foram atacados pelos tupis. Os tupis invadiram as terras e destruíram os moradores originais. Depois, vieram portugueses. Disseram que a terra era deles e escravizaram os tupis. No século XIX, chegaram a São Paulo alemães, italianos, judeus, poloneses, russos etc A elite lusitana da terra disse que eram invasores e tratou-os com desprezo, chamando, por exemplo, de carcamanos. A partir de1908, japoneses desembarcaram em Santos. O desprezo foi enorme. Falava-se em perigo amarelo, em doenças. Foram feitas leis de restrição aos migrantes asiáticos. Começaram a chegar “estrangeiros internos” a São Paulo: nordestinos. Foram necessários para as demandas de mão de obra aqui, mas nunca foram perfeitamente incorporados pelos ex-migrantes, agora elite da terra. Despontam coreanos, depois bolivianos, depois haitianos e, agora, sírios refugiados. Encontram algum apoio e muita resistência. Somos todos descendentes de refugiados e continuamos achando que os que chegam depois são estranhos. Por que o refugiado que chegou na segunda-feira trata o de terça-feira como ilegal? Como pode existir um ser humano ilegal neste planeta? Como pode alguém pode ser ilegal sendo humano? Tenho desconfiança de fronteiras, vistos e alfândegas ... Por que esta gente se desloca da sua terra natal? Pelo mesmo motivo dos nossos avós ou pais: porque são pobres, porque são perseguidos, porque têm medo, porque querem um futuro. O nordestino no pau-de-arara, o judeu fugindo de pogrom na Rússia , o japonês no navio de terceira classe e o sírio atual: todos nos olharam e olham como esperança de uma vida digna. E nós?

(Leandro Karnal - professor, historiador, palestrante)